Continuação da postagem de 26dez.2022.
ELE SERIA apenas um comediante comum, não fosse a figura peculiar do Vagabundo – The Tramp em inglês –, fruto de seu singular talento e, certamente, inspirado na infância miserável que sofreu na Londres do final do século 19. Somada a isso, a experiência no music-hall inglês certamente muito o influencia na construção do Vagabundo, personagem que Chaplin eterniza.

Meu tipo era diferente e não se aproximava de qualquer outro que os norte-americanos conheciam. Dentro daquelas roupas, ele se tornava uma realidade, uma pessoa viva.
Além desses fatores, Chaplin tem a oportunidade de começar numa arte e indústria nascente, o Cinema, a Sétima Arte. Convém lembrar que não decorriam duas décadas desde que os irmãos Lumière haviam, em 1895, apresentado sobre uma parede branca sombras cinzentas de operários saindo de uma fábrica. Estava inventado o Cinematógrafo ou Cinema, simplesmente.

Mas os filmes dos Estúdios Keystone se resumiam ao pastelão puro, e Chaplin, incomodado, sente que pode fazer mais que isso, não se conformando com caricaturas. Tem dificuldade para se adaptar ao estilo excessivamente pastelão e de grande correria, que são aqueles primeiros filmes de Mack Sennett.
Qualquer figurante que ganha três dólares por dia pode fazer o que o senhor está me ordenando. Quero fazer coisa de algum mérito, não apenas andar aos empurrões ou caindo de bondes. Não é para isso que estou recebendo 150 dólares por semana.
Devido ao estrondoso sucesso que faz pela Keystone, no ano seguinte, 1915, Chaplin é contratado pela Essanay Studios, que lhe oferece salário mais elevado. Seus filmes passam a ser mais disciplinados, além de o personagem The Tramp ficar mais desenvolvido. Lá ele faz 14 comédias curtas, em que, inovando, Chaplin, inspirado em sua infância, injeta momentos de drama, inéditos em comédias pastelão. Na Essanay, Chaplin compõe seu elenco estático com Edna Purviance, Leo White e outros atores, que passam a acompanhá-lo em obras seguintes.

O artista via a comédia como sendo capaz de lutar contra as injustiças sociais e, ao mesmo tempo, de driblar a censura de uma sociedade puritana como a norte-americana de então. Chaplin vê a possibilidade de simbolizar, por meio do Vagabundo, a resistência inata por meio do riso às sofríveis condições de vida, não apenas a que ele viveu, mas a de milhões de pessoas, que assim se sentiam representadas em suas comédias aparentemente inocentes.
Em 1916, a Essanay torna-se pequena para o gigante Chaplin. Chaplin, nesse ano, é contratado pela Mutual Film Corporation, que lhe paga 670 mil dólares para fazer doze comédias de duas bobinas, num período de 18 meses – uma fortuna para a época. O contrato dá a Chaplin o controle quase total das produções, em que ele adiciona a seu elenco estático os atores Eric Campbel, Henry Bergman e Albert Austin.
Em 1918, com o fim da Mutual, Chaplin é contratado pela First National Pictures, com a missão de produzir oito filmes com duração de duas bobinas. Chaplin, seguindo seu instinto artístico, percebe que pode fazer muito mais, em vez de limitar-se às exigências dos cineastas sem imaginação. Chaplin os surpreende ao produzir longas-metragens que entram para a história do Cinema, como Ombro Armas!, O Garoto – película que levou Jackie Coogan, a ser a primeira celebridade infantil da história e também o primeiro filme de comédia dramática. Vida de Cachorro foi o primeiro filme pela First National em que ele e Sydney contracenam juntos pela primeira vez.

Mas Chaplin percebia que a maior parte dos lucros ficavam nas mãos dos produtores e financiadores. Enxergava como a sociedade – embora, naturalmente, ele se beneficiasse dela — é injusta, gerando riqueza para poucos a partir do suor dos que realmente produzem. Com o cinema não é diferente. Em 1919, Chaplin unia-se a Mary Pickford, Douglas Fairbank e David Griffit para criar a United Artists. Agora, além de ator, roteirista e diretor, Chaplin assume o papel de distribuidor de seus próprios filmes.
Chaplin leva a sério a arte do riso, agregando-lhe funções. Em Carlitos, o indivíduo tem a oportunidade de esbofetear a sociedade, vingando-se das contingências sofridas do cotidiano.

Em 52 anos de atividades no cinema, Chaplin fez ao todo 81 filmes. Carlitos (The Tramp), um personagem engraçado, mas não alegre, é, provavelmente, o personagem mais imitado em todos os níveis de entretenimento. A arte de Chaplin influenciou uma legião de atores e cineastas, tais como Federico Fellini, Os Três Patetas, Peter Sellers, Milton Berle, Marcel Marceau, Jacques Tati, Rowan Atkinson, Johnny Depp, Michael Jackson, Roberto Gómez Bolaños, Renato Aragão e tantos outros.

Na mesma proporção em que ganhava fama e fortuna, Chaplin também atraia a ira e a perseguição. Suas ideias político-sociais, implícitas em filmes como O Garoto, O Circo, Luzes da Cidade, Tempos Modernos, O Grande Ditador e Monsieur Verdoux, incomodam as autoridades do governo estadunidense, que o acusam de comunista. Assim, em 1952, ano do lançamento do filme Luzes da Ribalta, quando viaja com a família para a Europa, Chaplin tem revogado seu visto de permanência nos Estados Unidos. O artista decide radicar-se na Suíça, onde vem a falecer em 25 de dezembro de 1977.
L.s.N.S.J.C.!
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