Continuação da postagem de 25dez.2022.
NA ENTREVISTA, o garoto usa a autoridade de quem, aos cinco anos, tendo invadido o palco, deu continuidade à apresentação interrompida da atriz e cantora Hannah Chaplin, salvando a mãe de um vexame causado pela perda repentina da voz. A sobrevivência e o hábito obrigavam-no a mentir a idade, dizendo ter catorze anos quando na verdade tinha apenas doze. É outono de 1901, quando o adolescente consegue sua primeira oportunidade no teatro para uma turnê de quarenta semanas, a duas libras e dez xelins por semana.

Fred Karno, empresário de comédias burlescas, fez objeções à fisionomia extremamente juvenil de Chaplin, que se candidatara ao emprego. “Isso é uma questão de maquiagem”, respondeu Chaplin com desenvoltura. E acompanhou a frase com um desdenhoso movimento de ombros. “Parecia que o mundo de repente mudara, tomando-me nos braços com carinho e me adota”, declarou Chaplin em suas memórias.

Nesse dia, o adolescente foi para casa tonto de felicidade. Subitamente, compreendera ele que ficava para trás a vida de miséria, pois concretizava o sonho de que sua mãe tanto falara: ele ia ser ator. Já não era mais um vagabundo dos miseráveis bairros londrinos; agora era um personagem do teatro. Charlie tinha vontade de chorar.
Em casa, quase não sabendo ler, Sydney o ajuda nos diálogos. Eles são unidos, e a presença do irmão em sua vida jamais seria esquecida por Chaplin.
A vida, porém, lhe reservava muito mais.
Charlie já estava acomodado à situação, quando, em 1905, surge em sua vida o empresário Fred Karno. É na trupe do velho Karno que, entre 1910 e 1912, Chaplin, 21 anos, já experiente artista do teatro de variedades inglês, faz uma excursão pelos Estados Unidos, levando à América toda a performance das casas de espetáculo britânicas, arte que encantava a baixa sociedade da época. Até então, o teatro popular é somente uma forma de ganhar a vida, sem maiores ambições.
O público norte-americano jamais havia visto semelhante performance, por isso, a trupe de Fred Karno volta outras vezes à América do Norte. É então o final de 1913, quando o talento inigualável de Chaplin chama a atenção de Mack Sennett, Mabel Normand e Minta Durfee, representantes da incipiente indústria cinematográfica norte-americana.

Assim, em 1914 Sennett o contrata para a Keystone Film Company, onde faz, durante esse ano, 34 filmes de curta-metragem e um de longa-metragem, tornando-se em pouco tempo celebridade. É, porém, artisticamente ainda um esboço do que virá a ser. Nesse ano, Chaplin é apresentado ao cinema; e o cinema é apresentado a Chaplin, que logo vislumbra na nova arte mil possibilidades, diferenciando-se dos quase anônimos atores da suburbana Hollywood da década de 1910.
Continua…
L.s.N.S.J.C.!
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