O CRONISTA anônimo!

RECONHECE-SE um bom cronista quando ele, de uma frase casual ou de um fato aparentemente corriqueiro e normal, transforma a ocasião em um belo texto, composto de reflexões filosóficas e, por vezes, de uma pitada de bom humor. O bom cronista vai muito além da mera informação.

Não. Não estamos aqui falando de cronistas célebres, conhecidos do grande público. Feras como Luís Fernando Veríssimo, Fernando Sabino, Rubem Braga, entre outros, mestres na arte de transformar banalidades em textos de elevado trato, além de bem-humorados e reflexivos sobre o ofício de viver, são figuras consagradas e reconhecidas.

Também não falamos sobre o cronista musical, esse até mais conhecido e badalado. Gênios como Chico Buarque e João Bosco, exímios em contar e cantar a vida cotidiana e os fatos aparentemente sem muita importância, são pouquíssimos e, por paradoxal que seja, nem tanto valorizados num terra em que o povo não prestigia como devia os verdadeiros talentos artísticos.

Falo aqui de gente anônima que, como eu, gostam de traduzir em letras as coisas simples, e aparentemente sem relevâncias.Vide o caso de José Augusto Moita, cujas crônicas nós aqui postamos por três vezes e também na BODEGA do Valentim, por uma oportunidade.

JOSÉ A. Moita
José Augusto Moita (fonte: Facebook)

Como bom cearense, Moita discorre com uma boa dose de humor sobre o fato de o músico Pantico Rocha, que, após décadas de carreira trabalhando na informalidade, somente agora houve por bem registrar-se e ser portador de sua carteira de trabalho, afinal. Justo agora, em épocas de precarização dos direitos trabalhistas, situação em que o amigo alencarino foi direto ou indiretamente na ferida. Como cronista inteligente, disse ele com outras palavras sobre o problema. Ao bom entendedor, meia palavra basta.

Recentemente, postamos igualmente outra crônica de J. A. Moita. Trata-se de um casal de amigos, abnegados, que de sua casa e com poucos recursos resolveram instalar uma escola de música para crianças e jovens carentes da localidade. O título “Bem, temos uma orquestra!” retrata bem a qualidade do bom cronista que, a partir de uma frase apenas, se põe a escrever e reflexionar, com facilidade, sobre a bela e abnegada atitude do senhor Alberto e da dona Marta.

Da mesma forma, o cronista em alusão foi bem num texto em que reporta as suas agruras em cumprir dupla jornada, uma como funcionário público de banco e outra como microempreendedor, tendo que correr de um lado para outro a fim de conseguir juntar uns trocados e conseguir dar relativo conforto à família. Com bom humor, faz indiretamente uma crítica severa e justa ao sistema econômico do governo brasileiro de então. Nessa época  — e, ao que indica, estamos a voltar a esse tempo nefasto –, o brasileiro obrigava-se a fazer das tripas coração, quase ocupando dois lugares no espaço ao mesmo tempo, como foi o caso do Moita.

Outra.

O progressista anônimo também contribui para enriquecer este blogue com a crônica sobre um episódio banal, ocorrido no contexto temporal da Copa do Mundo de 1978. Retrata, de forma indireta, a manipulação que os meios de comunicação exercem sobre os brasileiros em sua maioria, quando o ideal seria a escola e os livros exercerem tal influência e poder. Estamos longe, muito distantes, do ideal.

Pobre povo brasileiro, sempre manipulado!

MONTIEZ Rodrigues 1
Montiez Rodrigues (fonte: Facebook)

Outro grande e inteligente cronista anônimo revela-se no nome de Montiez Rodrigues, também nosso ex-colega de farda, que nos diverte diariamente com suas tiradas cômicas postadas no Facebook. Montiez, também alencarino, relata numa de suas crônicas diárias sobre um ex-colega teuto-brasileiro. Trata-se do Gigante Pool, em que o cronista homenageia suas qualidades ao mesmo tempo em que discorre sobre um determinado período de suas vidas em comum: o tempo inesquecível da sua juventude (e nossa também) naqueles dois longos anos de Escola de Especialistas de Aeronáutica.

São das ideias desses cronistas anônimos, além de também dos fatos e situações corriqueiras, que nós nos valemos em nossos blogues também quase anônimos.

L.s.N.S.J.C.! 

2 respostas para “O CRONISTA anônimo!”.

  1. Avatar de José Soares
    José Soares

    Lisonjeado com a lembrança, que a mim toma forma de homenagem mesmo que imerecida.

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  2. Avatar de BLOGUE do Valentim
    BLOGUE do Valentim

    São exatamente os anônimos, meu caro Moita, que devem ser homenageados e lembrados. Aos célebres não falta quem lhes lamba as botas, lhes babem os ovos. Há muito talento escondido e não valorizado pelos homens.

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