ERA CARNAVAL!
Num sábado-gordo há exatamente 67 anos, 11 de fevereiro de 1956, ainda pela madrugada dois oficiais-aviadores passavam pelo portão da guarda do Parque de Aeronáutica dos Afonsos. Como estavam fardados, o major e o capitão foram saudados com a continência regulamentar pelos soldados da guarda, que reconheciam no capitão um oficial lotado naquela Unidade Militar. Nem desconfiavam eles que os dois oficiais estavam prestes a tentar um golpe de estado, pois podiam estar ali, no quartel e num dia de feriado, para mais uma viagem a serviço, fato corriqueiro nas unidades de voo da FAB, mesmo num fim de semana.

Juscelino Kubitschek, o JK, havia assumido o cargo de presidente do Brasil há onze dias, não tendo, portanto, tempo para ter cometido erros, segundo suas próprias palavras. Mas, a exemplo do que ocorreu a 8 de janeiro de 2023, para um golpe era a data oportuna: JK, não tendo ainda tempo de errar ou de acertar, também não tinha ainda tempo de adequadamente se instalar, de compor sua equipe, de conhecer a máquina que mal iniciava a pilotar. Resumindo: era pegar o governo de surpresa, e assim contar com a inexperiência. A data escolhida também era de caso pensado: o Carnaval. Uma época festiva em que o carioca levava a sério e – pensavam os golpistas – levaria algum tempo para os legalistas se organizarem no combate aos revoltosos.
Em tese, a presença de dois aviadores militares internados na Selva Amazônica não teria condições de incomodar o governo. Ocorre que logo aconteceria um fato que daria maior poder de fogo aos revoltosos. Paulo Vítor da Silva, major-aviador, que comandava um C-47 em missão, trairia seus superiores e se bandearia para o lado de Veloso e Lameirão. Em consequência, os sediciosos passaram a ter em seu poder um avião de grande porte, capaz de transportar tropa, equipamentos, tonéis de combustível, armas e munições. Esse fato veio a prolongar a sedição.

Mas, para o bem das instituições democráticas, muita coisa daria errada para Haroldo Coimbra Veloso, Paulo Vítor da Silva, José Chaves Lameirão e para muitos outros conspiradores. Na hora H, muita gente roeu a corda. O plano seria, a partir do interior do país, reunir grande parcela da aviação de combate. Aviões de Fortaleza, de Recife e de Salvador imediatamente partiriam para Jacareacanga. Daí, esperavam contar com a adesão do Exército e da Marinha, com uma crise sem precedentes, levando o governo de Juscelino às cordas. Nada disso aconteceu. Um dos responsáveis pela coordenação do movimento era o coronel Manoel Vinhaes, ex-comandante da Base Aérea do Galeão. Esse oficial estava incumbido de chegar em Belém e, mediante a força, assumir o comando da Base Aérea de Belém, e, partir de então, comandar a revolta. Ocorre que, mediante escutas e informações, os oficiais legalistas da Primeira Zona Aérea estavam atentos e, mal o coronel Vinhaes, desembarcou em Val-de-Cães, recebeu voz de prisão, abortando o movimento revoltoso.
Juscelino, já experimentado pelo que sucedeu a Getúlio Vargas, agiu com mão de ferro, pois o intuito era não deixar a aventura daqueles dois aviadores militares tomar corpo. Por isso, mandou o ministro da Aeronáutica, brigadeiro Vasco Alves Secco tomar medidas enérgicas, para isso sendo determinado que o próprio comandante da Primeira Zona Aérea, sediada em Belém, o brigadeiro Antônio Alves Cabral se encarregasse pessoalmente da força-tarefa que logo partiria, a bordo do navio Presidente Vargas, para dar combate aos revoltosos.

É bom lembrar que oficiais da FAB insatisfeitos com o governo de Vargas, sob a liderança do brigadeiro Eduardo Gomes, provocaram a crise de 1954, quando foi morto o major-aviador Rubens Florentino Vaz, que agia como guarda-costas do jornalista Carlos Lacerda, ferrenho oposito de Getúlio. Ciente disso, JK nomeou para ministro da Guerra o general mais legalista e rígido: o general Henrique Teixeira Lott, o mesmo que em 1955 liderou um contragolpe a uma conspiração em vigor, que visava não dar posse a JK. Ao mesmo tempo, monitorava o ministro da Aeronáutica, em cuja força, sabia o presidente, havia um foco de insatisfações. Todo cuidado era pouco, por conseguinte.
Sob a força do combate legalista, os revoltosos foram ao cabo de vinte dias derrotados. Veloso foi preso, Paulo Vítor, Lameirão e um sargento fugiram para a Bolívia a bordo do C-47.
L.s.N.S.J.C.
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