Continuação da postagem de 16dez.2022.
DE TODAS as edificações e monumentos de Brasília, a obra mais enigmática e original de Niemeyer é a Catedral Metropolitana com suas dezesseis colunas hiperboloides a sustentarem a edificação, lembrando mãos postas em oração. Niemeyer, ateu e comunista, é autor de mais de duas dezenas de igrejas e outros templos religiosos ao longo de sua prolífica carreira. A primeira, como se sabe, é a da Pampulha, cuja arquitetura revolucionária não é bem compreendida pelo arcebispo de Belo Horizonte. O religioso não concorda em sagrá-la e com isso nega conforto espiritual à comunidade católica que se forma em volta da lagoa da Pampulha. Foi preciso esperar o prefeito JK tornar-se presidente para, já na gestão de outro bispo, o templo ser finalmente destinado à sua missão religiosa.

Mais tarde, a Catedral Metropolitana apresenta-se como a obra-prima de Niemeyer, como uma espécie de bênção divina ao talento brasileiro. O projeto lhe dá o Prêmio Pritzker, equivalente ao Nobel de Arquitetura, em 1988.
No entanto, o ateu Niemeyer, primo de Dom Luciano Mendes de Almeida, que foi arcebispo de Mariana e uma referência no catolicismo brasileiro, vira santo quando o núncio apostólico foi conhecer a catedral:
Esse arquiteto deve ser um santo para imaginar tão bem essa ligação esplêndida da nave com os céus e o Senhor. (Costa Couto, Brasília Kubitschek de Oliveira, p. 138)
Mais tarde, no ano de 1968, sentindo que sua carreira e sua vida corriam perigo em vista do novo governo instalado no país, decide partir rumo à Europa, onde, a partir de então, sua arquitetura torna-se mundialmente reconhecida e requisitada. A essa altura o governo militar vem a endurecer as ações políticas passando a perseguir seus adversários, reais ou imaginários. Em entrevista à revista Manchete, Niemeyer faz questão de mostrar sua lealdade aos amigos de sempre, mais ainda aos que passam por momentos adversos, como os então perseguidos pelo regime de exceção.
Relata ele em suas memórias:

… era entrevistado pela revista Manchete. Pedi ao repórter: “Pergunte quem são meus melhores amigos”. E respondi: “Luís Carlos Prestes, Juscelino Kubitschek, Darcy Ribeiro e Marcos Jaymovitch”, acrescentando: “Cito-os porque, além de serem meus amigos, estão na adversidade e neste momento é que a amizade deve estar presente e se manifestar”. Revoltava-me o silêncio conivente que pesava sobre eles. (p. 122)
Niemeyer, cujo imenso prestígio poderia lhe ter garantido grande fortuna, na verdade nunca ligou para economizar dinheiro. Preferia ajudar os amigos em dificuldade que o procuravam. E não foram poucos.
Esse era o ateu Oscar Niemeyer.
Atendendo ao maior preceito cristão, sua vida vai muito além da Arquitetura — de cuja genialidade todos podem apreciar — consistindo também em ajudar a seu próximo. Embora não sendo religioso, está claramente demonstrado pela sua biografia que Niemeyer fazia igual ou talvez mais — muito mais — que muitos cristãos ou crentes. Sendo uma sumidade na Arquitetura, não faz da arte um meio para ganhar dinheiro ou conquistar fama. Esta veio naturalmente sem que ele a buscasse. Quanto ao dinheiro, não faz dele um fim em si mesmo senão um meio de ajudar a quem o procurasse.
L.s.N.S.J.C.!
Continua…
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