O PRIMEIRO sequestro aéreo!

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Continuação da postagem de 04dez.2022.

MESMO antes de chegarem as tropas enviadas pelo marechal Henrique Lott e comandadas pelo major França, que só pousariam na manhã do dia
seguinte (4 de dezembro), os rebeldes já haviam sofrido tamanha derrota moral. Mas um cadáver a bordo não era o único problema que haveriam de enfrentar os terroristas fardados (os civis vestiam fardas da FAB).

Afastada do grupo, sentada num banco de madeira do acanhado salão de
passageiros, emocionalmente em frangalhos, encontrava-se a senhora Jaísa Lott, jovem viúva do tenente-aviador Lott, morto em acidente aeronáutico ocorrido havia quinze dias no Pará. A viúva, tendo ido ao Rio para os funerais do esposo, voltava agora a Belém, onde a esperavam os filhos.

Mais tarde, um pouco mais calmo e vendo que nada podia fazer, o viúvo aceitaria solução alternativa.

A essa altura, por volta das dez, a Panair divulgava o desaparecimento
do avião. Buscas foram ordenadas pela FAB na rota da aeronave. À tarde,
em face de informações mais recentes e seguras, tais buscas foram canceladas. Os passageiros – relata Leyla Castello Branco – estavam preocupados com os parentes que ficaram no Rio e os de Belém, que, a essa altura, afligiam-se com o iminente sinistro do quadrimotor.

***

CAMPANELLA, uma vez no Grande Hotel, que era uma espécie de
hotel-fazenda, circulava em volta do prédio organizando mentalmente as
cenas que havia testemunhado. Antes, ainda no saguão do aeroporto, tratava de fotografar tudo; um dos oficiais lhe confiscou a câmera e o rolo
de filmes. Não sabiam que ele tinha outros de reserva. Um homem prevenido vale por dois. Agora, ainda tentando encontrar uma solução, observava que no limite oeste da cidade havia duas pontes: uma sobre o rio das Garças e outra sobre o rio Araguaia, ambas ligando Aragarças a Barra do Garças, em Mato Grosso, daí o nome da cidade: Aragarças. Barra do Garças, por informações tomadas por ele, era uma cidade mais populosa que a pequena Aragarças. Logo, devia existir lá uma agência de correios e telégrafos, ou, inexistindo, pelo menos haveria uma emissora equipada com equipamento de rádio ou telégrafo – calculava. Tudo o que precisava era ir até lá e passar telegramas a fim de transmitir, em absoluta primeira mão, as agitadas novidades políticas que estava a presenciar, que, eram de relevância política maior – bem maior – que a divulgação das obras da Belém–Brasília.

Como a vigilância era frouxa, resolveu ir a pé e, vendo um homem de
metralhadora vigiando a ponte, explicou-lhe ser jornalista e…

Regressando, já no hotel observou que o sargento que cuidava da vigilância conversava descontraidamente com os passageiros tendo deixado displicentemente a metralhadora sobre um banco. Apenas cumpria ordens, não tendo nenhum compromisso com a tal “revolução”. Por volta das dezesseis horas, viu surgir um jipe do qual desembarcaram Charles Herba, imponentemente trajando macacão de voo, e Luís Mendes de Moraes Netto. Indagaram sobre as pessoas mais importantes entre os passageiros. Levaram com eles, como reféns, o senador maranhense Remy Archer, então presidente do Banco da Amazônia, o seu assessor de imprensa, Paulo de Oliveira, e Ítalo Saldanha da Gama, também jornalista. Ficaram os três em poder dos rebeldes no QG da rebelião.

VALENTIM, Antonio. O País dos Militares e dos Bacharéis, pág. 306 e 307. Rio de Janeiro: Autografia, 2021.

L.s.N.S.J.C.!

Continua…

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