ACABEI de ler 1932 A Revolução Constitucionalista no Baixo Amazonas, excelente livro de Walter Pinto de Oliveira, nosso amigo virtual de Facebook.

A pena magistral de Walter Pinto nos revela o desconhecido levante acontecido em 1932 no 4º Grupo de Artilharia da Costa, quartel do Exército Brasileiro sediado em Óbidos, Pará. Era a época da Revolução Constitucionalista, movimento armado que o Estado de São Paulo perpetrou contra o governo federal de Getúlio Vargas, e que tinha como bandeira uma nova constituição brasileira.
Poucos sabem que a luta dos paulistas buscou também envolver outros estados da federação. O Pará foi um deles. Por que poucos sabem? É aí que entra o autor que, além de contar a história com detalhes buscados nos arquivos da época, também nos traz o contraponto e a razão de o episódio ter sido varrido para baixo do tapete da história: Joaquim de Magalhães Cardoso Barata, o interventor federal de então.
As refregas não foram moles. É interessante saber que o povo de Óbidos já havia sofrido outra experiência traumática: a Revolução de 1924, em que o tenente Magalhães Barata foi um dos protagonistas. Derrotado o movimento, Barata acabou preso. Seis anos depois, porém, sobrevém a Revolução de 1930, ou a Revolução de Outubro, como prefere o autor. Barata assume como interventor.
São Paulo, não assimilando a derrota, pega em armas. Era preciso que as tropas federais ficassem ocupadas em seus respectivos estados de origem, não reforçando os contingentes militares em luta na Revolução de 1932. Essa é uma das razões que ensejaram o levante em Óbidos, localidade estratégica por situar-se no ponto mais estreito do Amazonas entre duas capitais amazônicas: Manaus e Belém. Tomando o quartel, ficava fácil controlar as embarcações em trânsito entre uma cidade e outra, controlando tropas, cidadãos e bens.
Vejam que o autor também, além das causas e consequências e da luta em si mesma, também um pensamento que se chama imaginário social, teorizado pelo polonês Bronislaw Baczko. Com efeito, o que se seguiu foi a tentativa de um silenciamento dos vencidos, prevalecendo a versão dos vencedores. Nessa esteira, os primeiros foram demonizados enquanto estes últimos, os vencedores, passaram a ser endeusados, numa distorção dos fatos.
Dona Raimunda Corrêa, falecida professora primária que foi minha sogra, contava-nos que qualquer pequeno comerciante que não manifestasse apoio a Barata sofria com barbaridade policial, que punha tudo a baixo. Portanto, a ameaça do interventor de fazer de Óbidos um “porto de lenha” faz todo o sentido. Barata era populista, mas um populista no sentido negativo da palavra em que a violência imperava contra seus opositores.
Duas razões podemos indicar para o fracasso da revolta de Óbidos: uma, a ostensiva presença do tal coronel Pompa, chamando a atenção para as autoridades e população locais; outra, a ação providencial de Leônidas Gomes, agente sanitário, que remou durante dezoito horas para chegar a Santarém e alertar o prefeito local.
Como interesse pessoal, descobri vários pontos relativos à carreira militar que até então eu desconhecia. Os praças da época não tinham estabilidade – essa é uma delas. Outra: não havia a graduação intermediária de subtenente. Outros aspectos, como o sistema de promoções adotado pelo Exército e a reinclusão de militares anistiados foram pontos de discórdia também explorados por Pompa, o enviado da Revolução para rebelar o quartel de Óbidos. Aliás, também odiavam os oficiais – coisa também não incomum na caserna.
Um excelente livro que conta uma interessante história que o baratismo quis de nós esconder.
L.s.N.S.J.C.!
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