MONTIEZ Rodrigues!

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O general hi-tech

MONTIEZ Rodrigues 1
O cronista Montiez Rodrigues conta mais uma de suas experiências enquanto militar da Força Aérea Brasileira (foto: Facebook)

UM GENERAL-DE-BRIGADA do Exército Brasileiro, empolgado com o Brasil potência do milagre econômico e entusiasta da entrada do Brasil nos avançados campos da tecnologia, gostava de viajar, dar palestras e visitar os centros de excelência profissional das Forças Armadas do país. Não era intelectualmente bem dotado, mas era bastante divertido em suas preleções. Chegou a assumir o comando do quartel da restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro, laboratório onde se testava a eficácia dos armamentos e munições usados pelas Forças Armadas.

Na vez em que a equipe de telemetria do Centro de Lançamentos da Barreira do Inferno foi visitar os laboratórios desSa base militar, coincidentemente, uma turma de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras também estava em visita. Que fez o general? No auditório do quartel ordenou que todos nós, os sargentos da Barreira do Inferno, subíssemos ao palco e nos apresentou aos cadetes e oficiais presentes, dizendo:

“Olhem esses meninos, eles representam o que há de melhor na educação tecnológica em nosso país! Uma continência para nossos heróis!”, vibrou o general.

Foi uma homenagem e tanto. Entre encabulados e envaidecidos, todos nós ficamos. Vivíamos em plena ditadura e a hierarquia era rigorosa, mas o general podia e gozava de prestígio não só no Exército, mas em todas as Forças​ Armadas. No entanto, aquele instante em que gozamos de prestígio mais do que a oficialidade presente foi demais!

Um lugar lindo, a Marambaia! Passear por aquela praia extensa vendo a serra avançando no mar entre a neblina foi extasiante. O lugar era de uma paz indescritível. Devia ser reconfortante morar numa daquelas casas da Vila Militar que mais pareciam as dachas soviéticas nas praias do Mar Negro.
Anos mais tarde fui encarregado de ciceronear o velho general, agora de Exército e já na reserva, em visita à Barreira do Inferno. Saí com ele e seu séquito pelas dependências do quartel. Mostrei a estação de Radar, a de Telemetria, onde eu trabalhava, mas o general delirou foi quando liguei os comandos da antena Stella, uma gigantesca parabólicas de rastreio de veículos espaciais, e comandei uns giros da antena em várias direções.

O oficial de segurança da Barreira, um terror para seus subordinados e um tremendo puxa-saco até de outro tenente que tivesse um dia a mais de antiguidade sobre ele, a toda hora dirigia-se ao general, às vezes interrompendo minhas explicações apenas para redundar o que eu acabara de dizer. Houve um momento em que o general perdeu a paciência e disse:

“Tenente, cale sua boca porque você só entende de infantaria! De tecnologia, só conhece o manejo de algumas armas. Deixe o sargento, e só o sargento, explicar pra gente porque ele se expressa muito bem e fala dos equipamentos como se fossem coisas vivas!”

E aí, (como que) para comprovar o que dissera, diante de um osciloscópio, dirigiu-se ao grupo que o acompanhava e perguntou:

“Vocês já viram a energia elétrica que se encontra nas tomadas de suas casas? Aquela que promove todas as benesses da nossa vida moderna?”

Aí, olhou pra mim e ordenou:

“Sargento, mostre pra eles! Então pus os dois bornes de entrada do osciloscópio na tomada de energia. Na tela se desenhou uma linda senoide de sessenta hertz que parecia uma bailarina da dança do ventre a oscilar harmoniosamente. O general entusiasmado gritou:

“Olha aí! Estão vendo? Esta é a energia elétrica de suas casas!”

Todos olharam admirados para o osciloscópio e aplaudiram. Ainda não sei se entusiasmados com a exibição de tecnologia tão primária ou pela bajulação imanente que a maioria tinha por todos os generais da ditadura.

Provavelmente pelas duas razões, meu caro Montiez Rodrigues, o tecnológico. O esporro dado pelo general no tenente foi algo de humilhante, mas bem merecido. Muitos deles se põem, por pura bajulação, a meter o nariz onde não entendem bulhufas, necas de pitibiriba (como dizem os paraenses). Mas se metem assim mesmo como que para justificar a sua existência ou o soldo ganho no final do mês. 

L.s.N.S.J.C.!

 

 


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